O que levaria um filme de zumbis a encerrar com uma referência tão obscura quanto perturbadora? Extermínio 3: A Evolução (28 Years Later) não apenas expande o universo da franquia, como planta uma semente que promete gerar calafrios no público britânico, e confusão no resto do mundo.

SPOILERS a seguir! O encerramento do filme — e propositalmente britânicas. A última sequência do longa, dirigido por Danny Boyle, levanta questões estranhas e incômodas em um delírio visual inesperado: um garoto cercado por infectados é salvo por homens com jaquetas Adidas e tacos de golfe, aplicando golpes de kung fu coreografados como numa versão distorcida de Power Rangers.

Mas calma, vamos rebobinar e explicar o final de Extermínio 3!

O fim… que é só o começo (SPOILERS!)

Após uma jornada visceral, o garoto Spike (Alfie Williams) encontra seu caminho ao retornar à vila para entregar um recém-nascido imune ao vírus, antes de partir sozinho rumo ao continente.

Mas é na cena extra (meio pós-créditos) que o filme faz um twist ousado. Spike, agora em uma estrada, é encurralado por infectados. Ele parece condenado, até ser salvo por um grupo excêntrico de sobreviventes, vestidos com agasalhos Adidas, tacos de golfe e uma atitude quase performática.

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Tudo isso acontece cinco minutos depois de Spike, o jovem protagonista, sentir a morte da mãe, num dos momentos mais sensíveis do filme.

O líder do grupo se apresenta como Sir Jimmy Crystal, vivido por Jack O’Connell. O nome e a estética do personagem podem ser mais do que toque estilizado.

Um culto doentio e a perversão do “salvador”

Boyle e Alex Garland sabem exatamente o que estão fazendo. Para o público britânico, a imagem de Sir Jimmy Crystal resgata um passado incômodo, que mistura memória afetiva com revelações monstruosas.

Os rumores apontam que a referência direta é Jimmy Savile, apresentador britânico cuja verdadeira história só veio à tona após sua morte, revelando um dos casos mais chocantes de abuso infantil já registrados no Reino Unido.

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A comparação fica ainda mais perturbadora quando lembramos que Savile comandava o programa que se comunicava com o público jovem “Jim’ll Fix It”, no qual prometia “realizar os desejos” de crianças. A ideia de que Spike, uma criança desiludida com seu pai e em luto, seja acolhido por alguém que ecoa essa imagem distorcida de salvador, traz uma camada sombria para o futuro.

O culto, provavelmente chamado de “Fixers”, enxerga Jimmy como um messias, alguém que “vai consertar” o mundo. Mas será que Spike perceberá isso a tempo?

Isolado da cultura pós-apocalipse, o carisma de Jimmy pode parecer encantador. O grupo o acolhe, o salva, o cerca com disciplina e ordem. Mas o público, ciente da inspiração, sente o perigo latente. Essa diferença de percepção deve ser central no segundo filme da trilogia.

Velhas feridas sociais

Com estética de videoclipe, violência exagerada, música heavy metal e coreografias propositalmente teatrais, a sequência brinca com a nostalgia britânica e o absurdo pop, evocando lembranças de programas infantis dos anos 90, como os Power Rangers, e referências da cultura de massa.

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Este final também traz uma irônia. Afinal, Jimmy Crystal é também fruto de uma infância moldada nesse mundo em ruínas, crescendo entre referências distorcidas. Seus ideais e estilo refletem um imaginário infantil corrompido.

A decisão de Danny Boyle e Alex Garland de inserir essa crítica na franquia é corajosa. Quando Extermínio foi lançado em 2002, Jimmy Savile ainda era tratado como ícone nacional.

Hoje, a cena final serve como comentário sobre o trauma coletivo, o revisionismo e figuras públicas que abusam do poder sob a aparência de benevolência.

Extermínio 3 tem distribuição da Sony Pictures, direção de Danny Boyle e estreia nos cinemas do Brasil em 19 de junho de 2025, com cópias dubladas, legendadas e acessíveis.

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