Às 2h17 da manhã, algo inexplicável aconteceu: todas as crianças de uma sala saem de casa sozinhas, no escuro, e nunca mais voltam. Só uma permanece — Alex (Cary Christopher), um garoto tímido, introspectivo e quase invisível aos olhos dos colegas. A tragédia atinge em cheio a professora Justine Gandy (Julia Garner) e pais como, Archer Graff (Josh Brolin), que agora buscam respostas para um evento que parece desafiar a lógica.
Essa é a história base de A Hora do Mal (Weapons). Porém, e se voltarmos os olhos para além do terror de investigação e cenas bizarras?
O que é A Hora do Mal?
Comece essa jornada com nossa crítica base sem spoilers:
A História de Alex
Quando a narrativa muda para o ponto de vista de Alex, o desaparecimento das crianças ganha contornos mais íntimos. Não se trata apenas de “sumir” fisicamente, mas também de um afastamento social e emocional que ele já vivia muito antes daquela madrugada.
No ambiente escolar, Alex é isolado, retraído, e seu mundo parece existir à parte da sala de aula e dos colegas. Seu jeito tímido é de forma constante combustível para bullying dos colegas. Aqueles que talvez ele gostaria que desaparecessem.
A professora Justine, ao notar esse isolamento, tenta entender mais sobre sua vida familiar, mas, mesmo percebendo os sinais, há limites éticos que restringem até onde ela pode ir.
É como se, para Alex, o mundo já tivesse se afastado muito antes daquele dia. Mas porque? Vamos abrir os olhos para uma visão crítica com spoilers.
A Magia e o Vício
Seguindo o ponto de vista de Alex, testemunhamos como pais antes amorosos passam a agir de forma hostil — algo que aprofunda ainda mais o isolamento do garoto.

No filme, isso é consequência da influência do feitiço criado por Gladys (Amy Madigan). Mas, em outra camada, podemos ler essa transformação como um simbolismo: o reflexo de um lar que se torna tóxico, onde o afeto cede lugar à agressividade e a convivência passa a ser marcada pela tensão.
O diretor Zach Cregger (Noites Brutais), em entrevista que encontrei na internet, afirmou não ter planejado o filme como uma alegoria única. Ainda assim, reconheceu que a jornada de Alex traz fortes traços autobiográficos: ele também cresceu com pais dependentes de álcool e precisou assumir responsabilidades que não cabiam a uma criança.
Uma cena que traduz esse peso é quando vemos Alex alimentando os pais com sopa enlatada. Um gesto simples, mas carregado de significado sobre a inversão de papéis dentro da família.
Quando os pais somem antes dos filhos
A Hora do Mal ainda deixa espaço para uma reflexão incômoda: até que ponto os pais transferem para a escola não apenas a educação acadêmica, mas também a social e emocional de seus filhos? Diante de uma mudança brusca de comportamento — seja isolamento, agressividade ou hábitos erráticos —, muitos responsabilizam a escola antes de questionar as próprias omissões.
No filme, o “sair de casa” das crianças pode simbolizar tanto uma fuga emocional quanto um vício que as afasta do convívio familiar. Como na vida real, um lar quebrado e a falta de diálogo raramente são reconhecidos como parte da causa.
O desaparecimento físico, então, se torna metáfora para ausências mais antigas: a distância silenciosa que cresce entre filhos e tutores, sobretudo com a virada da adolescência.
Entre os personagens que orbitam essa história está James (Austin Abrams), um jovem em situação de rua, usuário de drogas e pratica pequenos furtos. Ele representa de forma crua um tipo de perda para o vício — uma transformação que, muitas vezes, começa de forma imperceptível e vai corroendo laços familiares.
É como se ele fosse também um garoto que sumiu na madrugada.
Quer um resumo em vídeo? Então dá play:
No fim, A Hora do Mal é um thriller sobrenatural intenso, mas também um espelho para discutir abandono, vícios, e o quanto de responsabilidade realmente estamos dispostos a assumir quando algo muda na vida de quem amamos.
A Hora do Mal (Weapons), dirigido por Zach Cregger e produzido pela New Line Cinema, estreia no Brasil em 7 de agosto de 2025, com cópias dubladas e legendadas. Classificação 18 anos.

