Qual o limite entre conquistar reconhecimento e ser destruído por ele? A Substância responde essa pergunta da forma mais extrema possível.
Mas o que significa aquele final grotesco?
O que é A Substância
Após quebrar as regras e abusar do uso da misteriosa droga da juventude, a versão jovem de Elisabeth Sparkle (Demi Moore) dá origem à aberração conhecida como Monstro Elisasue, uma fusão disforme de suas identidades.
Em uma cena bizarra, essa nova versão se apresenta ao vivo, mas, ao revelar sua verdadeira forma, provoca um caos entre a plateia enquanto também leva à sua própria destruição.

O que acontece no final de A Substância?
Fugindo do estúdio, Monstro Elisasue explode em um banho de vísceras. Do meio da carne retorcida, surge apenas o rosto original de Elisabeth, agora reduzido a um resto de vida gosmento, que rasteja até sua estrela esquecida na Calçada da Fama.
Ela sorri. Ela se imagina sendo aplaudida. E então derrete em uma poça de sangue.
Corte para o dia seguinte: um funcionário passa uma máquina de limpeza industrial e simplesmente esfrega os restos embora, como se nada tivesse acontecido.
O que esse final quer dizer?
Por mais absurdo que pareça, esse encerramento funciona como uma crítica feroz ao ciclo de consumo da indústria do entretenimento.
Elisabeth passa o filme inteiro tentando se moldar ao padrão, sacrificando corpo, mente e identidade na busca por relevância. Mas, mesmo após se transformar e lutar contra si mesma, ela ainda é descartada sem cerimônia.

Sua estrela na Calçada da Fama, que simbolizava reconhecimento eterno, aparece agora como um lembrete de esquecimento, coberta por sujeira. Seu rosto rastejando até ela é a última tentativa desesperada de existir e ainda assim, termina limpo por uma máquina industrial, como qualquer resíduo descartável de estúdio.
O sorriso final não é vitória; é delírio, a fantasia de ser admirada por um público que já se cansou dela. No fim, A Substância afirma que a verdadeira destruição não vem do tempo, mas de tentar impedir o tempo a qualquer custo.
Velha Estrela
O grande tema do filme não é apenas envelhecer, mas a impossibilidade de conciliar quem somos com quem esperam que sejamos. Elisabeth e Sue representam duas faces que nunca se aceitam — e o resultado dessa disputa não é equilíbrio, é monstruosidade.
No fim, A Substância afirma com clareza: a verdadeira punição não é envelhecer é tentar impedir isso a qualquer custo.
Vale a pena assistir?
Sim — especialmente se você gosta de horror estilizado, body horror à la Cronenberg e ironia visual à la Sam Raimi. O último ato pode parecer exagerado para alguns, mas é justamente nele que o filme encontra sua força.

