Diferente de outros “filmes 3”, o terceiro capítulo de Terrifier não se prende ao desejo de dar um arremate ou “concluir a saga”. Na verdade, o longa parece um renascimento para esta franquia cult (e gore) de terror.
Seguindo o sucesso de Terrifier 2, a história da sequência começa do lado de cá. Com um orçamento maior e a segurança de uma marca estabelecida, o diretor e roteirista Damien Leone parece mais artisticamente confortável ao realizar este filme.
Assim, se o segundo longa foi um vômito de ideias e habilidades, em uma estrutura estritamente blocada, Terrifier 3 é um filme de escolhas. Da trilha sonora com Synth à textura granulada das imagens, o longa ainda parece um “Filme B”, mas por desejo de trazer uma experiência de horror que remeta à Halloween e à atmosfera dos trabalhos de John Carpenter.
Art é Cinema (ou animação)
Neste processo de poder pensar sobre a atmosfera, quem mais brilha é a construção em torno do Palhaço Art (David Howard Thornton) como de fato um personagem. Seu potencial bruto é apresentado em uma intensa sequência de abertura, que o estabelece como um assustador agente de crueldade.
Mas evitando entrar num loop, daí pra frente o ícone é trabalhado em outros caminhos. Ainda perverso, Art é expandido em sua parcela Palhaço. Assim, vemos que além de energia em fúria, o vilão pensa e planeja seus números de arte (sádica).
Com essa possibilidade criativa do personagem, Terrifier 3 ganha nuances de ser uma adaptação em live action de Looney Tunes. A própria opção de trazer um filme temático de Natal remete ao performático Pernalonga. Apesar que, com as situações extremas propostas, e a presença de ratos, o que me veio à mente durante a sessão foi Tom & Jerry, ou melhor dizendo, Comichão e Coçadinha.
Trocando de Canal
Contudo, essa energia farsesca e estilizada é quebrada toda vez que entra em cena Sienna (Lauren LaVera). A final girl e sua trama recorrente parecem querer evocar tintas pesadas no drama, mas que apenas soam como quando uma paródia emula uma novela genérica.
Essa linha narrativa por vezes parece um intervalo de tempo entre as travessuras hiperviolentas de Art. Porém, é verdade que essa intromissão é bem menos abrupta do que no longa anterior, mostrando um maior equilíbrio na escrita da trama.
E vale assistir Terrifier 3?
Menos estridente que o anterior, o filme troca a experiência de choque por uma condução mais equilibrada de uma franquia agora bem estabelecida, que não tem pressa para se encerrar.
Intrusa recorrente na festa das grandes IPs, Terrifier 3 chega com menos pressa em entregar tudo o que pode, dando mais polimento às potências que já colocou na mesa. O resultado é um produto mais agradável para os fãs do gênero (ou para aqueles com estômago forte).
É verdade que ainda existem muitas rebarbas, principalmente no mundo “extra Art”, porém podemos ir com calma. Este bebê ainda está nos seus primeiros passos.
TERRIFIER 3
Lançamento brasileiro, Diamond Films.
Ano: 2024
Duração: 125 minutos
Elenco principal: Bryce Johnson, Elliott Fullam, Margaret Anne Florence, Samantha Scaffidi, David Howard Thornton, Lauren LaVera, Antonella Rose.
Classificação Indicativa: 18 anos