Transformers é uma série de filmes baseada em uma linha de brinquedos da Hasbro. Adaptada para o cinema pelas mãos de Michael Bay a saga ganhou fama de exagerada, porque além de robôs gigantes e muitas explosões, sempre trazia como pano de fundo tramas paralelas, evocando complexidade. Tudo muda com O Despertar das Feras (Rise of the Beasts), que é o exato contrário.
O filme segue o reinicio da cronologia após Bumblebee (2018), mas não que isso faça muita diferença, posto que a história apresentada aqui funciona muito bem de forma isolada.
Aliás, falando em apresentações, é fácil sermos envolvidos pela representatividade do especialista em eletrônica Noah Diaz (interpretado por Anthony Ramos) e a pesquisadora Elena Wallace (Dominique Fishback).
Envolvidos pelo gostoso clima de referências visuais e ao hip hop dos anos 90, os dois dominam o primeiro ato. Heróis que nos ganham por sua identificação com os dilemas da classe trabalhadora. A busca por reconhecimento de suas habilidades e a submissão a um “emprego que pague bem” são premissas que tocam a nossa existência de adultos periféricos no mundo capitalista.
Contudo após riscar essa linha, a história abandona sua “seriedade”. Afinal é hora dos Autobots rodarem.
Na curva para o chamado da aventura, a tocha do protagonismo é entregue para os robôs. Embora Noah e Elena não desapareçam ou sejam apagados, é inegável que os condutores da trama se tornam o turrão líder Optimus Prime, e o malando Mirage.
E com eles a dinâmica acelera. Com pouco mais de meia hora, o filme já se entrega a ação e não para até seu final.
Dos filmes de Michael Bay, este Transfomers herda uma urgência de escala global escala global, fazendo com que os heróis se desloquem por diferentes cenários em uma corrida contra o tempo e os vilões da vez.
Porém a textura da história é bem diferente. Enquanto nos cinco primeiros filmes se perdem numa teia subtramas, envolvendo espionagem e teorias de conspiração, O Despertar das Feras toma caminhos mais simples.
Aliás uma das marcas do longa dirigido por Steven Caple Jr. é a abordagem direta. Através de diálogos tudo é explicado de forma plana. Unicron e Scourge são os caras maus, e para detê-los temos que fazer isso e aquilo. Missão que se torna mais fácil quando casualmente os Autobots se aliam ao gorila Optimus Primal e os demais Maximals.
Neste ponto, confesso que num primeiro olhar bate um estranhamento com a forma plana com que a história se coloca. Mas afinal, este é um filme sobre carros e animais gigantes lutando contra o fim do planeta Terra. Precisamos mesmo de uma trama com rodeios?
Desta vez com designs mais limpos e menos cortes, a geografia das cenas nos permite se conectar e identificar melhor os movimentos e personalidades deses robôs transformáveis.
Com os gigantes em foco, o filme ganha contornos de uma brincadeira no tapete conduzida pela imaginação infantil, mas incrivelmente sólida.
Aqui não existe o desejo de ser um grande épico sci-fi, mas sim uma vibrante aventura de fantasia.
Enquanto os filmes de Bay traziam como pano de fundo a relação dos Transformers com a construção das Pirâmides do Egito, o Stonehenge e outros mistérios, O Despertar das Feras recusa tudo isso. Afinal, conforme diz um dos personagens, a criatividade humana é capaz de coisas incríveis e impressionantes.
É uma pena que seja uma aventura tão rápida. Ao final da sessão, estamos cheios de vontade de “brincar” mais uma vez com Noah, Elena, Mirage, Optimus, Bumblebee ou seja qual for seu Transformer favorito.
Transformers: O Despertar das Feras (Rise of the Beasts) é um filme de 2023 e tem 2h 7m de duração.