– Você não é rock n’ roll?
– Não, eu sou o jazz
Assim se define Amy Winehouse em uma das cenas do filme. Segundo o verbete contido na música “Papo de Surdo e Mudo” do O Rappa, o Jazz se caracteriza pelo improviso. No entanto, isso não é o que você vai encontrar em Back to Black, filme que traz a biografia da cantora inglesa.
Existem aqueles que, numa definição mais etérea, dizem que é difícil definir o que é o jazz. É música, potência e sentimento. Essa sim seria uma definição para este longa-metragem.
Dirigido por Sam Taylor-Johnson, com roteiro de Matt Greenhalgh, faz o polimento cinematográfico a trajetória famosa de Amy.
Aqui a opção é de um conto sobre sonhar e chegar perto do sol. Ou como uma garota judia alimentada pela contracultura em Cameden se tornou um ícone pop e partiu cedo demais.
Com uma vida cercada de controvérsias, é claro que qualquer que fosse o ponto de vista escolhido para as telas pareceria incompleta ou “não tão fiel” a toda a polifonia.
A própria personagem Amy Winehouse repete ainda nas primeiras cenas que não quer ser tratada como uma Spice Girl, para depois ser apresentada em um clipe em uma pegada pop punk em companhia de amigas que poderiam ser Mel B e Mel C.
Afinal somos feitos de afinidades e repulsões. Aliás, difícil é não contaminar do veneno de se falar apenas do que não se gosta.
E desse filme eu gosto.
A Vida é um Filme?
É claro que é perceptível, por exemplo, que o pai Mitch (Eddie Marsan) é tratado apenas como uma figura de carinho e proteção, o que não parece ser bem “a verdade”.
Porém enquanto obra de cinema, Back to Black é um filme que me manteve atento durante todo o desenrolar de sua proposta.
E se a vida retratada é marcada por atritos e versões entre quem conta a história, aqui a opção é de um tratamento mais linear estruturado enquanto narrativa visual. É sensível que a direção tem domínio do recorte e da história que querem contar.
Recortando Amy Winehouse
Em um primeiro bloco, o filme se dedica em apresentar Amy Winehouse (interpretada e vocalizada por Marisa Abela), a garota de “personalidade forte” e voz potente.
Com cenas que parecem não ter pressa, a trama aborda a personagem as vésperas de assinar seu contrato com uma gravadora e usa como pano de fundo o impacto (no público e em Amy) do disco Frank (2003).
É no embate com os produtores sobre o que vem depois que o longa faz a transição. Amy conhece Blake (Jack O’Connell) e o filme firma seu gênero como romance. Daqui até o fim usa como linha do que vai ser contato a destrutiva história de amor entre os dois.
Com isso, Back to Black um ritmo um pouco mais acelerado, passando por mais momentos da vida da cantora e do casal, podando alguns detalhes circunstanciais em função da sua estruturação enquanto narrativa compactada em um filme.
Assim o longa parece estar menos preocupado em contar a história completa, e mais uma jornada emocional. Não é uma biografia movida apenas por checkpoints.
Se momentos são omitidos, outros são evidenciados, como a permanente relação da cantora com sua avô “Nam” Cyntia (Lesley Manville), que tem sua nota mais grave em uma montagem que utiliza como fundo a música / álbum que dá nome ao filme.
Conhece esse som?
Aqui e ali edição e direção ainda marca seu domínio, como a escolha de utilizar as novas tatuagens como demarcação de capítulos na vida de Amy, porém se existe um grande protagonismo no filme é das musicas.
É empolgante como a seleção musical consegue encaixar de forma perfeita momentos e canções, de forma que sempre orgânica. A cena pede aquela track.
Talvez esse filme não seja a melhor versão da vida desta mulher, porém é uma bem instigante de assistir. E qual seria a melhor versão, afinal?
Entre sons, lacunas e uma voz potente, o legado de Back to Black é dar os acordes base para que cada um que assista faça seu jazz sobre quem é Amy Winehouse.
Back to Black
Lançamento brasileiro, Universal
Ano: 2024
Duração: 123 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos