Desde que John Wick surgiu nas telas de cinema, ele se tornou um ícone do gênero de ação. Com lutas coreografadas, personagens estilizados e uma busca redenção, a saga de Wick conquistou fãs em todo o mundo.
Agora, surge Fúria Primitiva (Monkey Man), filme dirigido e protagonizado por Dev Patel mas que parece estar limitado a receber o elogio de é o novo John Wick. Vamos explorar essa comparação e analisar como isso é uma afirmação preguiçosa.
Fantasia vs. Realidade
Uma das piadas recorrentes com a série de filmes John Wick é: Cadê os policiais?
Olhando agora em 2024, é possível dizer que os longas protagonizados por Keanu Reeves evoluíram para um cenário fictício, com facções de assassinos e cenografia de videogame, Fúria Primitiva mergulha em algo mais calcado na realidade.
Neste mundo, os policiais existem e não são os heróis.
É bem difícil assistir e ficar apenas na superfície, encarando como um mero filme de pancadaria. Divisão social, preconceito e opressão são questões que estão entrelaçados ao “entretenimento” em Fúria Primitiva. O real pulsa.
E o real também tempera. Além da sujeira urbana, da corrupção e a brutalidade da vida cotidiana. Essas pessoas querem existir.
Isso se materializa por exemplo quando personagens fazem referências à cultura pop, de Nicki Minaj à nome de filmes, incluindo um certo aquele famosão de ação.
Ou melhor: O personagem de Dev Patel comenta que assistiu John Wick.
Estética da Ação
John Wick revolucionou a ação cinematográfica com sua estética visual e coreografias elaboradas.
Os planos de câmera permitem que os espectadores acompanhem cada movimento, como em um palco aberto. Fúria Primitiva adota uma abordagem diferente.
Aqui é perceptível o leve balanço da câmera na mão, mesmo em cenas de dialogo. O olhar busca a ação. Os golpes são brutais e rápidos, deixando pouco espaço para contemplação. Essa escolha estilística cria uma experiência mais bruta.
E se é pra citar filmes, porque não relembrar a urgência da saga de Jason Bourne, especialmente com Paul Greengrass?
Contexto e Texto
John Wick construiu uma mitologia envolvendo ligas de assassinos, códigos de honra e hotéis exclusivos.
Já no filme de Dev Patel, a trama também cede para algumas “mentiradas”, porém nunca esquece das suas bases em elementos do mundo real.
O filme denuncia os poderosos e destaca as potências dos laços e a cumplicidade entre os excluídos. Eu sou porque nós somos.
O título original, Monkey Man, está conectado com uma história tradicional da Índia. Como metáfora, ela nos leva a refletir sobre o significado por trás do homem-macaco e sua jornada de vingança, ou justiça.
Rompendo as amarras
Aliás, falando de temas enquanto gênero cinematográfico, Fúria Primitiva é mais uma história de vingança do que ação focada em lutas.
Dentro disso, é possível notar inspiração em tramas de gangster, Taxi Driver, Kill Bill, e também aos longas de Chad Stahelski.
Aliás, voltando ao cinema de gangster, porque não trazer como referências para o diálogo as produções de Hong Kong, dos filmes de Bruce Lee á fitas mais sujas como Fervura Máxima.
Fúria Primitiva pulsa o mesmo sangue dos brabos The Raid (Operação Invasão) 1 e 2, que chegaram com pé na porta na última década (2011-2014), foram esquecidos? Mas é oriental. Talvez o nosso consumo pop seja colonizado por outros senhores.
O longa não é uma mera cópia de John Wick. Ele traz sua própria abordagem, misturando o brutal com comentários sociais.
Daqui é difícil imaginar um filme de ação estadunidense propondo o debate religião, abuso do poder policial e a exclusão de pessoas transgênero.
Definir o longa apenas pelas suas referências é reduzir o que ele tem a dizer. Enquanto o corpo carrega essas marcas, a essência é da da luta anticolonial, e da antropofagia de devorar o que vem de fora para construir o seu.
Prender na comparação é tentar domar essa fera, sem apreciar sua singularidade, coragem e energia.
Mas se você quer só um filme de lutinha, ainda temos John Wick.
Monkey Man
Lançamento brasileiro, Diamond Films
Ano: 2024
Duração: 121 minutos
Elenco principal: Dev Patel, Sharlto Copley, Pitobash
Classificação Indicativa: 16 anos